Aproveitando a deixa fornecida pelo Pedro no Tertúlia Benfiquista, aproveitando também o período de “defeso” laboral que a Páscoa me deu (e acreditem que muito era necessário…) apetece-me escrever umas considerações acerca da actual situação benfiquista. A desportiva e não só. A opinião aqui vale o que vale. Mas num panorama actual em que muitas das pessoas que opinam (sobre o Benfica e não só) nessa característica tão portuguesa do “mal dizer”são pessoas que nem a sua vida pessoal sabem gerir, quanto mais a dos outros, porque não haveria também de dar a minha?
Vou me basear em alguns pressupostos. O conhecimento (felizmente parco) da forma de gerir da direcção benfiquista, da conversa que alguns de nós tivemos com o Rui Costa (no célebre dia do “PalhaSADa”) e pouco mais.
Por partes.
Em 1994 estive presente nos festejos do título no Estádio da Luz. O jogo foi com o Guimarães e terminou com um empate a 0. Pontificavam grandes craques nesse Benfica. João Pinto, Rui Costa, os russos, Paneira, Isaías, Schwartz (que fez a sua despedida a caminho do Arsenal) , Mozer, Veloso (para mim o último grande capitão do Benfica) e um Rui Águas em final de carreira. Outros haviam que não me agradavam muito: o Abel Xavier (constantemente assobiado jogo após jogo), Abel Silva, Simanic, Pedro Henriques e Nuno Afonso (já nessa altura as nossas escolas eram quase uma nulidade…), o Abazi (lembram-se ???) e um semi-flop brasileiro chamado Aílton.
A época foi de sofrimento, se não fosse o João Pinto em Alvalade não teríamos sido campeões, mas conseguimos. Fomos campeões. Empatámos no jogo da festa mas foi perfeito. Um título que sabia a título.
O que aconteceu após esse final de época é histórico. Entrou Artur Jorge (o Damásio já tinha chegado a meio da época anterior substituindo o Jorge de Brito) que era à altura o “Mourinho”. O melhor treinador português. Tudo o que se passou depois é algo que mudou completamente a imagem do Artur Jorge no universo benfiquista (e português…) mas nessa altura acredito que 90% dos benfiquistas devem ter aprovado as promessas do Damásio. A saída do Toni e do seu adjunto Jesualdo Ferreira não geraram grandes ondas de choque na comunidade encarnada.
Não me apetece alargar muito a conversa referente a esse período. O Benfica entrou pouco tempo depois numa crise profunda. O Artur Jorge acabou por sair. Veio o Autuori apresentando uma boa folha de serviços no Marítimo. Também falhou. Seguiram-se Manuel José, Graeme Souness, Jupp Heynckes, Mourinho, Toni, Jesualdo e Camacho (não esquecendo os serviços prestados pelo Mário Wilson). Ao Damásio seguiu-se o Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho. Depois de uma Taça ganha ao Porto (de Mourinho) e de uma época mais uma vez longe do título, Camacho sai e chega o mestre do “catenaccio”: Trapattoni. Não acredito que tenha havido um benfiquista sequer que pulou de contente com esta chegada. Nesse Verão fui a Itália com o meu amigo e companheiro de estrada Manel Neves e bem me recorda as conversas que tivemos com os italianos acerca de Trap. A época afigurava-se negra. Com um plantel onde apenas 50% dos jogadores eram portugueses e com estrelas como Yannick, Dudic, Amoreirinha, Argel, Fyssas, Alcides, André Luiz, Paulo Almeida, Everson, Carlitos, Delibasic e Karadas (destes algum tinha lugar neste plantel ?) o Benfica conseguiu sagrar-se campeão. Parece milagre? Quase… Algo se passou no Foculporto de então que até hoje não encontra explicação. Começam a pré época com Del Neri, iniciam a época com o espanhol Fernandez e terminam com Couceiro (um flop aspirante a Mourinho). O Sporting foi igual a si próprio. A equipa do futebol bonito, do ataque, dos jogadores das camadas jovens e .. do quase. No entanto fomos para o Bessa na última jornada sem nada garantido. As últimas jornadas foram férteis em empates e algumas derrotas e podia ter sido um final negro. Não foi. Empate no Bessa e título para a Luz. Não contive as lágrimas nos últimos minutos mas já na viagem de regresso a Lisboa, com a pressão já aliviada desci um pouco a terra. Este título sabia a sorte. Não fomos campeões por sermos claramente melhores. Em 90/91 tínhamos sido os melhores. Tínhamos o melhor treinador (Eriksson), o melhor marcador (Rui Águas) e uma equipa de estrelas. Em 1994 já não foi bem assim (se não fosse aquela noite chuvosa de Alvalade…) e em 2005 devíamos ter acordado para a realidade. Não acordámos. Pensámos que este título ia ser o primeiro de uma série vitoriosa. Comprámos as ideias que o presidente Vieira e o então seu amigo Veiga nos venderam. Chegaram os kits e partiu Trapattoni. Para ir para perto da família disseram. Para Estugarda ele foi. Veio Koeman. Treinador ambicioso. Brilharetes na Champions e a primeira vitória em casa do Foculporto pós 1991. Á semelhança do César Brito foi a vez do Nuno Gomes. Mas este 2-0 não nos deu um título. Koeman também partiu. Veio o Fernando Santos. A equipa nada venceu e tirando parte da época em que o futebol era agradável também nada ficou. Veio Camacho e… E agora Chalana. Já com promessas de um italiano ou Queirós. Advogado pela BOLA e denunciado pelo Rui Santos. Estamos ao dia de hoje. O calvário continua. Ao contrário da maioria oiço com muita atenção o que diz Rui Santos, o que escreve o Freitas Lobo ou o José Marinho. De todos eles tento tirar o sumo principal de declarações por vezes mais influenciadas por passados mal resolvidos (especialmente no caso do Rui Santos) ou pela facilidade do comentário após o facto consumado, mas acabo por, na maior parte dos casos, dar razão a estes “opinion makers”. Pois muita das vezes coincide com a minha em mesas de café, no trabalho ou nas bancadas (na Luz ou em “transferta”).
O Benfica ainda não terminou o seu Calvário. Está doente. Tem adeptos doentes que, quem sabe, mordidos por alguma mosca que provoca o sono ou encantados por alguma flauta mágica continuam adormecidos, atingindo o pior grau que se pode ter num adepto: a indiferença. A indiferença aos jogos, aos resultados, ao futebol Esquecem-se do seu DEVER de adeptos e ficam por casa, escrevem, criticam, falam mas ficam por casa. Adormecidos e amorfos, engordando o seu sentimento de indiferença. Tristes portanto. Tenho essa máxima. Se não exerço o meu dever de adepto, como posso exigir que o Luís Filipe exerça o dele em campo? (ok, se calhar o exemplo não é feliz, mas um exemplo extremo é capaz de ser mais facilmente entendido).
A próxima época é já ao virar da esquina. O próximo treinador vem aí. O Estádio da Luz está cada vez mais vazio, parecendo a equipa de futebol. Vazia e perdida.
Acredito que todo o ser humano tem direito à segunda oportunidade e que o erro pode conduzir à melhoria da performance quando bem interpretado. Mas também acredito na méritocracia e que na excelência não pode haver espaço para erros continuados e pura incompetência. É essa a minha principal imagem desta direcção benfiquista. E infelizmente, o nosso último “craque” já está metido também na fogueira.
Só há uma pessoa que pode levar o Benfica ao fim do calvário e à ressurreição esperada após a Quaresma. O Adepto. O adepto anónimo e simples. Só ele pode levar o Benfica “ao colo” e só ele pode escolher o melhor rumo para este colosso. Actuais grandes equipas passaram pelo mesmo. O Manchester United, o Bayern, o Barcelona, o Real Madrid, o Milan, a Juventus, o Inter etc etc tiveram épocas negras. Todos deram a volta. Mas cuidado. Como na versão original também andam Judas por aí. E por onde menos os esperamos. É preciso ter cuidado com eles. Pois vendem-nos por pouco…
PS: Fora da análise ficam aspectos menos claros e dourados que explicam vitórias de outrem que agudizam crises nossas. Bem sei que esse factor não é de somenos importância. Mas o que vejo hoje é que mesmo que as coisas fossem transparentes como água (e não como petróleo...como o são) não nos seria fácil vencer. Seria menos difícil é certo. Mas não fácil.
. Game Over... Insert Coin....
. Adepto
. Comunicado Diabos Vermelh...