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Confesso que não li a entrevista do LFV à BOLA mas ao ler o artigo do BP não posso deixar de concordar com muitas coisas que escreve.
"A quadra natalícia é propícia a entrevistas às figuras do futebol português. Desta feita, os jornais desportivos investiram no ex-craque Figo (Record), no empresário Jorge Mendes (A Bola) e num dos treinadores da moda, André Villas-Boas (O Jogo). Apostas diferentes, mas qualquer uma delas a resultar minimamente interessante, sendo que as duas primeiras ocorreram na sequência da eleição das figuras do ano pelos respectivos diários. Mas a entrevista que acabou por cativar maiores audiências deve ter sido a de Luís Filipe Vieira (n’A Bola), porque não é à toa que se preside ao clube com maior número de adeptos, mais a mais quando eles andam (justificadamente) entusiasmados com o rendimento da sua equipa. Esmiucemos então as principais passagens de uma entrevista ao líder do Benfica em que se tentou fazer o balanço de sete anos de presidência (e mais dois como gestor do futebol).
Primeiro que tudo,
Vieira procurou enfatizar o seu papel na recuperação da credibilidade do clube, bem como na dotação deste com as infra-estruturas funcionais e modernas que tem hoje. Realçou ainda o aumento exponencial do número de sócios, que acredita poder chegar aos 300 mil. É razoável que o tenha feito, até porque são aqueles os seus principais méritos, mesmo que uma parte deles tenha de ser dividida com parceiros de direcção, designadamente os relativos à retoma financeira e à construção do estádio e do centro de estágio.A verdade é que o Benfica tem hoje credibilidade junto da banca e dos fornecedores, e voltou a ser respeitado no mercado e nas instâncias internacionais, o que não é coisa pouca, se recordarmos a herança catastrófica deixada pela gestão pirómana de Vale e Azevedo – e isso é hoje reconhecido até por aqueles que o apoiaram e defenderam praticamente até ao fim, quando, de forma assumida ou dissimulada, ainda viviam obcecados e iludidos com a possibilidade de estar ali alguém capaz de derrubar o poder de Pinto da Costa...Parece assim justificada a seguinte afirmação de Vieira: “O Benfica voltou a ter futuro, em contraste com aquilo que encontrei quando aqui cheguei”. Aproveita ainda a oportunidade para reclamar os méritos das renegociações dos contratos publicitários e da criação do fundo de jogadores pelo próprio Benfica, prometendo a obtenção de novas ou mais gordas receitas com as
vendas dos direitos televisivos e do naming do estádio.
Ou seja, Vieira destaca os predicados da sua gestão financeira, mas insistindo invariavelmente na vertente da receita, o que não deixa de ser meritório, mesmo num clube que é uma autêntica fábrica de fazer dinheiro (as receitas operacionais aumentaram 25 por cento no último exercício da SAD).
Provavelmente não por acaso, ignora o outro lado da moeda, o da despesa, cujo descontrolo (principalmente dos custos com o pessoal e com as transferências) fez com que o relatório e contas de 2007/08 assinale a vermelho 34,8 milhões de euros e o aumento do passivo em quase 43 por cento.É justo sublinhar que esta discrepância não é um pecado exclusivo do Benfica, estando o FC Porto em circunstâncias idênticas, com os seus administradores a revelarem-se igualmente mais preocupados com o aumento da receita e pouco com o controlo dos custos. Por não ter a mesma capacidade de inventar dinheiro, tivemos durante algum tempo um Sporting mais parcimonioso, mas bastou o afundamento na tabela classificativa para que o sentido de poupança fosse deitado às malvas.
A propósito da gestão financeira, Vieira deu uma bicada no FC Porto, porque só podia estar a ser dirigida ao clube portista esta afirmação:
“O que mais me estranha é que outros clubes que não passaram pelas dificuldades que nós passámos, que estiveram repetidamente na Liga dos Campeões e que vendem regularmente jogadores, só consigam apresentar lucros mínimos ou mesmos prejuízos”.
De facto, mesmo com as milionárias vendas de jogadores, a SAD portista apresentou, no exercício de 2008/09, um resultado líquido positivo de apenas 5,5 milhões de euros, sendo ainda verdade que os custos com o pessoal subiram 22 por cento, que o passivo aumentou 12,4 milhões e que a sociedade devia então à banca 70 milhões.
Há muito que é público e notório que o FC Porto faz uma gestão de alto risco. Porque todos os anos precisa de gerar, pelo menos, 35 milhões de euros na venda de jogadores para poder manter a sua política de investimentos e, ao mesmo tempo, continuar a apresentar resultados financeiros minimamente equilibrados.
A grande diferença é que, com esta gestão, o FC Porto sagrou-se campeão mundial, venceu uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e seis das últimas sete edições da liga portuguesa...Nitidamente menos à-vontade quando a conversa deriva para o rendimento desportivo, Vieira procura passar a ideia de que primeiro foi preciso apagar os fogos, arrumar a casa e criar as estruturas físicas e humanas. E que só agora é que os resultados da equipa passaram a ser a principal prioridade.
A mensagem é inteligente e passa com facilidade, mas perde eficácia quando se leva em conta o facto de o Benfica já ir na terceira época a investir mais de 25 milhões de euros em novos reforços.Mesmo tendo em conta que o actual sucesso desportivo também deriva de algumas boas escolhas de jogadores efectuadas no passado recente, principalmente há um ano atrás, a verdade é que o Benfica cometeu durante este período erros de casting com jogadores e ou treinadores. De alguma forma, Vieira acaba por fazer mea culpa na entrevista:
“Não há segredo. Contratámos um bom treinador – aquele que era desde há muito a minha escolha”. Efectivamente, uma boa parte da diferença talvez resida aí, só não se compreendendo por que razão não impôs mais cedo a opção por um técnico que não se cansa de elogiar e que diz querer manter por muitos anos na Luz.
Vieira diz ainda que “mal do Benfica quando tiver de ter um presidente remunerado”. É uma opinião discutível, porque os estatutos das sociedades desportivas permitem-no e porque em toda a Europa há grandes clubes com gestores profissionais. A destrinça devia ser em torno da competência ou da falta dela. Mas a opinião de Vieira é certamente muito popular junto dos adeptos. E se há coisa que o líder do Benfica sempre tem sabido fazer é gerir a sua relação com quem o elege.
O presidente do Benfica aproveitou ainda para desvalorizar as decisões judiciárias que têm ilibado boa parte dos acusados no Apito Dourado e não deixou de ser certeiro quando afirmou que “o importante é garantir que situações como aquelas que foram conhecidas e denunciadas não voltem a repetir-se no futebol português”. De facto, o efeito profiláctico é bem capaz de ser o principal dado positivo do processo que chegou a ameaçar todo o edifício do futebol nacional. Assim tenham vergonha na cara alguns dos seus (tristes) protagonistas."E ainda:
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Contratações de Inverno bem explicadasAlgo que Luís Filipe Vieira explicou na entrevista de forma bem sustentada foram as ordens de compra que o Benfica já deu nesta reabertura do mercado de transferências. As compras dos avançados Kardec e Éder Luís e do médio defensivo Airton, num total de investimento de 7,3 milhões de euros, parecem uma aposta inteligente.
Primeiro, por ser uma medida de antecipação às saídas que deverão verificar-se no final da época, como Vieira quase rotula de inevitáveis. O Benfica meteu “a cave” neste jogo de poker em que, do ponto de vista financeiro, parece participar esta época. O grau e o número de deserções irão, claro, depender muito dos resultados desportivos. Por isso, comprar antes de vender pode ter vantagens, até do ponto de vista das exigências financeiras colocadas pelos clubes vendedores, por sinal todos brasileiros. Depois, porque o Benfica investiu em três jovens promessas com currículo nas selecções do Brasil. A sua chegada imediata irá permitir uma integração gradual, aumentando ainda a qualidade das segundas linhas à disposição de Jorge Jesus, que passa, por exemplo, a ter um substituto credível para Javier Garcia.
O facto de o nome de Rui Costa não ter sido referido uma única vez em quatro páginas de entrevista tanto pode querer dizer alguma coisa como ter sido uma mera coincidência."
Em relação ao último parágrafo, fico igualmente com interrogações: se é verdade ou se é puro terrorismo jornalístico ?
Já agora, e aproveitando a boleia em relação ao LFV há que dar os parabéns ao Presidente por finalmente se ter livrado desta
chaga. A interrogação que coloco aqui é: Porquê só agora o pedido?
Carrega Benfica !!!
PS: São cada vez mais as notícias que dão conta do empréstimo do Nuno Gomes a um clube estrangeiro. Espero que não aconteça. São coisas como estas que custam balneários... e campeonatos.