Num universo multicultural e social como é o Sport Lisboa e Benfica existem diversos tipos de adeptos e diversas tendências no que ao ser Benfiquista diz respeito. A nossa grandeza assenta nessas pedras basilares. O Benfica não é de Lisboa, o Benfica não é do Sul. O Benfica não é do Norte. Nem sequer é de Portugal. É algo muito mais forte e importante que isso. Ou pelo menos devia ser.
Eu incluo-me naqueles que são crentes. Crentes como numa Religião. Obedeço aos valores da Catedral da Luz e exerço a minha prática na Sagrada Família que é o meu Grupo. Os Diabos.
Ontem foi mais uma daquelas jornadas de profissão de fé. De Lisboa arrancaram aqueles que ainda acreditam e que têm capacidade financeira para mais uma jornada de gastos e custos. Para mais 600 e tal kms em prol de um ideal que cada vez menos tendem a compreender. Isto é o meu Benfica. É ir onde outros não vão. É pertencer e partilhar o sentimento da “enorme minoria”. É o meu e gosto dele assim. Desde 92 que assim o é. No bem e no mal e até morrer. Como nas músicas que entoamos. A uns sai dos pulmões. A outros do coração.
Faço os primeiros kms na companhia de amigos habituais nestas lides. Acompanha-nos uma fé inabalável. Fazemos conjecturas de futuro acreditando sempre nas “camisolas berrantes”. Achamos que vamos vencer em Vila do Conde, que os lagartos “obrigados” por uma candidatura à Champions League vão fazer de tudo para vencer no Dragão e que o João Tomás vai marcar o golo do empate do Rio Ave na última jornada, provocando a festa da “Enorme Minoria” que porventura estaria em Setúbal.
Era este o plano. Parecia perfeito. Por momentos ignorei todo um clube que culturalmente falha nos momentos chave. Falha em casa no jogo com os Andrades. Falhara em Guimarães, Coimbra e Alvalade. E ontem voltou a falhar. O empate fez automaticamente o fóculporto campeão e deu o 19º título (em 30 anos) ao seu presidente. Isto deveria dar que pensar a muita gente quando procuram as razões pelo que o Benfica não vence.
Mas não. Seguimos dando tiros nos próprios pés.
Final do jogo. A equipa retira-se cabisbaixa para as cabines. Os adeptos, alguns, vão para junto do autocarro. É forte o aparato policial e em minutos o Benfica é resumido: uns insultam todos os jogadores, outros insultam só alguns, uns aplaudem e pedem autógrafos a todos, outros só a alguns, uns mostram frases contra o presidente, outros gritam “Benfica, Benfica”. No meio disso tudo não me saem palavras. Não consigo.
Sinto-me simplesmente triste e envergonhado com tudo o que assisto. Lembro-me da frase “Some men just want to watch the world burn” e apercebo-me que neste momento delicado não há um dirigente do Benfica que acompanhe o treinador ou os jogadores até ao autocarro. E mais uma vez lembro-me do presidente do fóculporto. E chega por uma noite…
Voltamos aos carros e espera-nos os mais de 300kms do regresso. Paramos numa área de serviço e os empregados fazem-nos o favor de mudar a Sportv (onde se viam os festejos a poucos kms de onde estávamos) para outro canal qualquer. Lembro-me que um ano antes estava mais uma vez naquela área de serviço com algumas das mesmas caras e sou apanhado por um sentimento de pertença a algo mais forte que uma bola de futebol que entra ou não dentro de uma baliza. Vida de Ultras. Algo assim.
Fazemos o regresso a Lisboa. Pelo caminho vamos recebendo novidades da Luz e leio a excelente crónica aqui ao lado. Uma TV adianta que é possível que o autocarro se dirija ao Seixal dado o tempo que demorou a aparecer. Afinal não. Aparecem na Luz. O autocarro. 50 adeptos e dezenas de PSP’s.
Cerca de 1h depois chego a casa. Arrumo o estandarte, as faixas e o cachecol. Não arrumo a minha fé. Não consigo. E não quero…
Carrega Benfica !!!!
PS: Orgulhoso dos 50 elementos dos DV que marcaram presença em Vila do Conde e não se esqueceram do dever de apoiar uma CAMISOLA e um SIMBOLO…
. Game Over... Insert Coin....
. Adepto
. Comunicado Diabos Vermelh...