«Para ser campeão é preciso tempo e paciência»
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Se pudesse voltar atrás, teria regressado mais cedo ao Benfica?
O regresso não teve a ver com a minha vontade, mas com as condições entre clubes, que impediram que voltasse mais cedo. Muitas pessoas questionam porque só regressei aos 34 anos. Lembro que, quando saí da Fiorentina, em 2001, custei ao Milão 45 milhões de euros. Uma verba que o Benfica não podia, de forma alguma, pagar. O não ter regressado antes nunca teve a ver com condições que eu tenha colocado. E demonstrei isso quando voltei, pois ainda tinha mais um ano de contrato com o Milão. Voltei com um contrato em branco. Disse ao presidente para preencher a parte relativa ao salário. Apenas fiz uma exigência: ter o meu número 10 nas costas!
E saiu para onde quis?
Não. Saí para onde o Benfica indicou. No Verão Quente de 93, quando alguns jogadores saíram para o Sporting, eu fiquei. Para mim, não era uma questão de dinheiro e tinha ordenados em atraso! Essa atitude levou o presidente Jorge Brito a prometer-me que, a ir para o estrangeiro, eu poderia escolher o clube. Apareceu o Barcelona e acordámos a transferência para a época 94/95. Manuel Damásio foi eleito, e o acordo caiu por terra.
Nestes dois anos, em algum momento se arrependeu?
Não. No ano passado, tive a lesão mais chata e prolongada da minha carreira, por um erro de diagnóstico. Digo isto como constatação, não como acusação contra ninguém. Quem trabalhou depois para a minha recuperação, ajudando-me bastante e pondo-me de pé, foi o departamento médico do Benfica.
Quem cometeu o erro médico?
Não faço caça às bruxas, não é vantajoso - nem para mim nem para ninguém. Acabei por jogar com uma rotura muscular, quando se pensava que era uma contractura, e com isso rasguei o resto do músculo. No total, perdi cinco meses e meio da época.
E no campeonato que terminou há uma semana foi o calvário dos resultados...
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Quando acertou o regresso, aceitou a proposta que o Benfica lhe fez?
Só soube quanto ganhava no Benfica ao fim do primeiro mês. Vim - como já disse - com um contrato em branco e com uma única exigência: o número 10!
Era dos que mais ganhava?
Não vou dizer quanto estava a ganhar, mas posso dizer que estava a meio do plantel. Mas só soube isso quando recebi o primeiro ordenado.
Era muito menos que no Milão?
Bastante menos, mas não vou entrar por aí.
E quanto ganhava no Milão?
Se forem às Finanças (de Itália) podem ver (risos). Todos os anos saem as listas; por vezes são os clubes que as divulgam.
Mas qual foi a percentagem em relação ao salário do Milão que veio ganhar para o Benfica?
Bom, já vi que não vão descansar, vou fazer a conta - nunca a fiz. Palavra de honra que nunca a fiz! (Pausa, enquanto faz a conta no telemóvel) Eram 12,5%.
Em termos relativos, é quase impossível encontrar na história do clube um futebolista que tenha suscitado tanta paixão. Como explica esta devoção dos adeptos?
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E é uma paixão correspondida?
Sem dúvida. Não é uma relação normal de um atleta com um clube, principalmente tendo estado fora tantos anos. Mas - confesso-o de forma orgulhosa - ela existiu, existe e é meu desejo que exista sempre.
Sentiu-se uma espécie de Dom Sebastião?
Nunca me senti um Dom Sebastião. Acredito no trabalho e não em homens providenciais!
Mas para as pessoas não terá sido isso?
Não. Repito: nunca me senti um Dom Sebastião. As pessoas sabem da minha paixão pelo clube e viram em mim o renascer de um benfiquismo que, segundo essas pessoas, estava a perder-se aos poucos. Não acredito que ninguém possa ter pensado que, só pelo meu regresso, o Benfica passava a ganhar tudo.
Mas muitas pessoas vão continuar a vê-lo como um Dom Sebastião...
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Não receia que essa paixão leve os adeptos a reclamar resultados imediatos?
Esse foi sempre o risco. Quando regressei, todas as pessoas à minha volta receavam pelo meu regresso. Diziam-me: és o menino querido do Benfica, as pessoas adoram-te, o clube vive um momento difícil, tu não consegues entrar no ritmo da equipa, podes desgastar a tua imagem, etc. E eu disse: se é assim, quero correr esse risco. Quero que as pessoas gostem de mim por aquilo que ainda sou, não por aquilo que fui. É um risco que vou correr, porque tenho o dever de o correr. As pessoas conhecem a minha história no clube, o orgulho que tenho em vestir esta camisola. A maior parte não esquece o golo pela Fiorentina ao Benfica. Nem o famoso Verão Quente (de 1993) e a minha rejeição em ir para o Sporting. Fiquei no Benfica, com ordenados em atraso, com o Sporting a comprar tudo e todos, a pagar valores exorbitantes. São episódios marcantes.
O Verão de que falou foi aquele em que Sousa Cintra contratou Paulo Sousa e Pacheco...
...e o João Pinto vai e vem.
Qual foi a proposta do Sporting?
Ia ganhar 120 mil contos por ano (estávamos em 1993). No Benfica, ganhava 25 mil contos. Na altura, não tinha 36 anos nem tinha estado 12 anos em Itália. Morava na Damaia, tinha 21 anos, ia casar e tinha ordenados em atraso.
Com quem se dá melhor no plantel?
Graças a Deus, por onde passei fiz sempre muitos amigos. E dou-me muito bem com muitos jogadores do plantel. Nos dias de hoje, sei onde leva essa pergunta. Uma coisa é a amizade, outra coisa é o profissionalismo. Tenho, de facto, grandes amigos, mas vou conseguir sempre separar as águas.
Quem são eles?
O Nuno Gomes, com quem joguei muitos anos, também na Fiorentina. Basicamente, os maiores amigos são jogadores que encontrei na selecção, como o Petit e o Quim. Mas, enquanto director desportivo, as minhas decisões serão tomadas em função das necessidades, não consoante as minhas amizades.
Os futebolistas do Benfica são tão maus como pareceram nesta época?
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A troca de Fernando Santos por Camacho foi benéfica?
Teve partes boas e más. No início, teve a parte boa: houve uma alteração, acabou por mexer com a cabeça dos jogadores...
O efeito da chicotada psicológica...
Sim. Depois, acabou por não ser uma época positiva. E, quando uma época não é positiva, não há este ou aquele culpado. Toda a gente que trabalhou à volta da equipa tem a sua quota-parte de responsabilidades.
Mas não há uma hierarquia de responsabilidades?
Não, porque mais do que ser injusto, acusando alguém, se calhar estou a ser benevolente para com aqueles que têm mais culpa. Reparto a culpa por todos: a direcção, por ter mudado de treinador após a primeira jornada; os jogadores, que na primeira jornada, estando a ganhar ao Leixões, se deixaram empatar já depois da hora... Assim, não há treinador que resista! Se for campeão este ano - ou no dia em que for campeão -, terei só a minha quota-parte de mérito. E este será distribuído por todos.
O Benfica bateu no fundo esta época?
O Benfica não bateu no fundo, porque tem uma almofada muito grande: de pessoas, adeptos, gente que quer bem ao clube... Por muito mal que esteja, tem sempre essa almofada, que puxa sempre o clube para cima. É uma mola de entusiasmo.
Assume como objectivo uma vitória do Benfica já no próximo campeonato?
O clube não pode entrar em nenhuma época partindo do princípio que não vai ganhar. No meu primeiro ano, sendo um ano zero para toda a estrutura que está a ser montada - com o intuito não de ganhar um campeonato mas de abrir ciclos -, espero estar ao nível das exigências e lutar para ser campeão. Agora, ninguém se iluda: o futebol precisa de tempo e alguma paciência!
Vai pedir tempo?
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Mas é obrigatório ser campeão?
É obrigatório lutar para ser campeão. Ora, o Benfica de hoje não está a fazer isso. O primeiro passo é colocá-lo a lutar pelo campeonato.
Qual foi o melhor futebolista com quem jogou?
Paolo Maldini, do Milão, o jogador mais completo de todos.
Qual foi o futebolista com quem jogou e que passou ao lado de uma grande carreira?
Luís Mariano, um ex-jogador do Benfica. Cresceu comigo nas camadas jovens, era um ano ou dois mais velho que eu. Era também um número 10. Tinha um talento fora do normal.
Que treinador mais o marcou?
Carlos Queirós, na selecção, e Eriksson, no Benfica. Cada um à sua maneira.
E o pior?
O pior é feio dizê-lo (risos).
Qual foi o maior falhanço?
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E o melhor jogo da sua vida?
Um Milão-Real Madrid, para a Liga dos Campeões. E tenho um Benfica-Parma, nas meias finais da Taça das Taças, no Estádio da Luz. Faço a assistência para o 1-0 e marco o 2-1.
Qual foi a melhor equipa em que jogou?
O Milão campeão europeu e a selecção portuguesa no Euro 2000.
E o melhor ponta de lança com quem jogou?
Gabriel Batistuta, avançado argentino da Fiorentina.
E o médio que lhe deu mais trabalho?
Didier Deschamps, capitão da França e jogador da Juventus.
Ele secou-o?
Não direi que secou, porque ele também sofreu bastante. Eram duelos difíceis para os dois.
Qual o melhor clube?
O Milão e o Benfica.
E o melhor presente?
Entre 120 mil pessoas a cantarem-me os parabéns no Estádio da Luz (antes de eu ir para Itália), a despedida no passado domingo e as 35 mil bandeirinhas portuguesas em Florença quando voltei à cidade com o Milão (não joguei, estava lesionado, mas pediram-me para ir lá) são presentes muito iguais, não é fácil escolher.
Qual o melhor presidente?
O melhor presidente... (hesitação) Não tive muitos. Nos sete anos na Fiorentina, tive um; nos cinco no Milão, tive um; no Benfica, tive cinco: Fernando Martins, João Santos, Jorge de Brito, três meses Manuel Damásio e Luís Filipe Vieira... (nova hesitação) O presidente de quem guardo mais carinho - porque deu o que tinha ao Benfica e acabou por sair de forma inglória - é Jorge de Brito, mas é evidente que seria injusto excluir Luís Filipe Vieira. O clube e eu pessoalmente devemos-lhe muito!
Qual é o melhor estádio?
O Estádio da Luz, o antigo. Este é mais moderno, mais confortável, mas o antigo era mágico!
Alguma vez foi vaiado?
Várias vezes, inclusive no Estádio da Luz.
É difícil superar isso?
É difícil. Uma pessoa só será futebolista se conseguir alcançar um equilíbrio entre o aplauso e o assobio. Não se pode empolgar demasiado com o aplauso nem afundar demasiado com o assobio. Quando conseguir uma estabilidade emocional para aceitar ambas as coisas, ultrapassou o maior obstáculo para vir a ser jogador.
Entre os dois extremos, qual é o pior?
Não saber lidar com o sucesso. Quanto menos se consegue isso, mais a pessoa sobe e maior é, depois, a queda.
Consome bebidas alcoólicas?
Em certas circunstâncias, sim. Nunca tive o vício do álcool. Se tiver companhia à mesa, posso acompanhar com um copo de vinho. Enquanto jogador, de férias, podia beber uma cerveja, ou um uísque, se fosse a uma discoteca. Mas nunca fui um consumidor de bebidas alcoólicas.
Fuma?
Fumo. Hoje já posso dizê-lo: sempre fumei. Nunca o disse, ou o assumi, para não dar um mau exemplo, sobretudo a jovens ou futuros jogadores. Sei que não é bom para um desportista, é um mau vício e estou decidido, muito em breve, a parar.
Por onde passou, há muita cocaína em redor do futebol?
Sinceramente, não. Também aqui, como em todas as profissões, há os mais frágeis e os menos frágeis. A cocaína nunca foi um problema do futebol. Sempre foi um problema social e não do futebol.
Alguma vez consumiu?
Não.
E dopou-se?
Nunca me senti alterado por natureza... e, espontaneamente, nunca me doparia na vida. Acho que respondo nas duas vertentes: doping voluntário e involuntário.
Onde investe o seu dinheiro?
No imobiliário, desde há alguns anos.
Tem quem o ajude na gestão?
Tenho uma empresa de promoção imobiliária desde há três anos.
Já entregou a sua declaração de IRS?
Este ano ainda não.
Quanto pagou no ano passado?
Paguei... Foi muito. Algum.
Em quanto estima a sua fortuna?
Não estimo no sentido em que pretendem (risos). Estimo, e muito, no sentido em que a cuido (risos). Se não perder a cabeça, os meus filhos terão uma vida bastante segura.
Continuará a fazer publicidade?
Depende dos contratos, mas serão seguramente situações muito pontuais. Hoje, já não sou jogador. Enquanto director, penso em tudo menos na publicidade.
Costuma votar?
Sim. Quando estava no estrangeiro, era mais difícil, porque jogava aos domingos. Mas, sempre que posso, voto.
Qual foi a última vez que votou?
Foi para a Câmara da Amadora.
Alguma vez apoiou algum candidato?
Só uma vez dei o meu apoio explícito a um candidato, o dr. Jorge Sampaio. Não por qualquer inclinação ideológica, mas apenas pelas qualidades pessoais que lhe reconheci.
Chegou a ser convidado por mais de um partido ou um candidato numa mesma eleição?
Sim, ao mesmo tempo. Dois.
Foram o PS e o PSD?
Se calhar (risos).
Em Itália, ver-se-ia a votar em Berlusconi?
Via, porque conheci a pessoa. Durante cinco anos, convivi com ele, fiquei com boa ideia da pessoa e das suas capacidades. Repito, não tem nada a ver com questões ideológicas, acredito nas pessoas.
Há famílias que pressionam os filhos para que sejam futebolistas. Em jogos, há pais que chegam a gritar às crianças de forma doentia...
É o maior erro que se pode cometer, incutir nos miúdos a ideia que têm de ser jogadores de futebol e craques. Ouvir os pais a dar instruções aos filhos num campo é, até, uma falta de respeito para com o treinador. Em todas as equipas do mundo, o treinador é que manda. É ele que terá de fazer com que os jogadores cresçam. Com um pai impulsivo a intrometer-se no processo de evolução do jovem futebolista, a história acaba sempre mal.
Jorge Jesus, treinador do Belenenses, disse uma vez que «o ‘fair play’ é uma treta». Isso é verdade?
Em certas situações, sim. E naquela a que ele se referia em concreto tinha razão. Creio que caímos num extremo em que por tudo e por nada se pára o jogo! Não é por uma lesão menor que deve mandar-se a bola para fora, pois há uma quebra tremenda de ritmo e gera-se má-disposição, com discussões entre os jogadores... Nesse sentido, as palavras de Jesus foram bem aceites por quem está dentro do campo. Um excesso de simulações gera um falso «fair play».
Isso significa que muitas das lesões são simuladas?
Não. Há muitas situações em que a própria pancada é momentaneamente dolorosa. Isso não quer dizer que toda a gente seja fiteira.
Fez muitas simulações?
Fiz algumas, mas nunca usei muito essa malandrice de me atirar para o chão para ganhar faltas inexistentes. Se quisesse fingir, percebia-se logo que estava a fazer fita.
Simulou grandes penalidades?
Grandes penalidades não, mas faltas sim. Ao sentir que ia perder a bola, procurava um contacto físico para cair.
Quem foi o maior «malandro»?
O meu querido amigo Paulo Futre.
Foi bem-sucedido?
Muito bem-sucedido (risos). Extraordinariamente bem-sucedido!
Alguma vez deveria ter sido expulso e ficou em campo?
Corri alguns riscos. Também tenho o sangue quente. Sou muito emotivo. Numa ou noutra situação, talvez me tenha escapado uma palavra ou um gesto mais agressivos para um árbitro. Não com maldade...
Nunca chamou nomes à mãe do árbitro?
Não. De maneira nenhuma. Embora seja um «chavão» futebolístico usado com demasiado exagero. Tenho de o assumir - com todo o respeito pelas mães. Não há intenção de ofender!
Qual a maior barbaridade que sofreu?
Foi um guarda-redes que me partiu duas costelas. Tive a felicidade de nunca me terem cuspido em cima. É o gesto mais pobre e mais baixo que há na vida, e não apenas no futebol. Mais vale uma estalada!
Era capaz de reagir a uma cuspidela com um murro?
Por exemplo. É uma situação daquelas em que pode perder-se o controlo.
Têm-se sucedido incidentes disciplinares com jogadores portugueses nos campeonatos da Europa (Holanda) e do Mundo (Coreia).
Os portugueses têm sangue muito quente.
Os espanhóis também, os gregos também, os turcos...
Pois, mas não fomos os únicos a criar problemas. Gregos e turcos travaram uma das maiores batalhas campais num jogo...
Com Portugal, há casos sucessivos...
Acreditem que acontece com todos. Os nossos comentadores ou enaltecem muito ou criticam demasiado. Estive no Portugal-França e na Coreia. Aqui, tivemos dois jogadores expulsos - não houve propriamente uma batalha campal.
Na selecção portuguesa, além dos jogadores, houve o caso do seleccionador...
Podemos ver isso como um copo meio vazio ou meio cheio...
Aqui, é mais o copo a transbordar...
No copo meio vazio, isso aconteceu, de facto; no copo meio cheio, não acontece só com os portugueses; e o Scolari é brasileiro. Concordo que falhámos em duas grandes competições, e aos olhos de todo o mundo, quando fomos eliminados, mostrámos mau perder. Temos o sangue muito quente e dificuldade em aceitar a derrota.
Da experiência em Itália, há um modelo de direcção desportiva que gostasse de ver no Benfica?
A dupla Galliani e Braida, no Milão. O Galliani é administrador (era o vice de Berlusconi, e tinha mais poder ainda quando este estava no Governo e não podia conciliar as duas coisas).
No Benfica, será apenas o Rui Costa?
Será o Rui Costa e o Luís Filipe Vieira. O director nunca pode estar numa situação isolada. A coordenação do futebol (plantel, estruturação, perfil dos jogadores) - isso passará tudo por mim. Mas, a nível de negociações, claro que a SAD do Benfica e o seu presidente têm de participar. Senão não vale a pena lá estarem. O presidente é o presidente. E não há nenhum presidente no mundo que não tenha interferência na vida do clube. Nenhum! Mas as decisões do futebol passam por mim. Não sei se me fiz entender...
Já sabe o orçamento que tem para contratações?
É um dado variável. O orçamento de uma equipa baseia-se não apenas no dinheiro disponível mas sobretudo no dinheiro que se cria com as vendas. Portanto, para o dia de hoje, não lhe sei dizer.
Haverá grande rotação de jogadores?
Haverá sempre alguma rotação, é inevitável. O objectivo é que seja a mínima possível, para dar alguma continuidade ao plantel, mas esse mínimo pode ser ainda grande. Entre os jogadores que terão propostas e que o Benfica não poderá segurar e entre os que não fazem parte dos planos pode haver algumas mexidas.
Foi noticiado que o Benfica vai renovar com Nuno Gomes. Concorda?
O Nuno Gomes, como outro jogador qualquer, irá renovar quando o Benfica entender e não quando os jornais entenderem. Estamos a falar do ponta-de-lança da selecção nacional, com o maior número de golos do plantel do Benfica, de um jogador com muitos anos de casa. O Benfica tem de ter referências e gente que ajude quem chega a conhecer o clube. Como devem calcular, a mim não me incomodam nada as idades - interessam-me as qualidades. Enquanto qualquer jogador tiver qualidades para representar o clube, irá fazê-lo.
Tiago, Miguel e Manuel Fernandes saíram do Benfica em ruptura. Um jogador que saiu a mal pode voltar?
Depende do motivo por que saiu a mal. Se saiu a mal «em choque» com os adeptos ou com o clube, se foi para onde não queria... Depende da situação.
Mas nenhum foi mandado embora. Tinham contrato e quiseram sair...
Também podia falar de jogadores que ainda estão no plantel e têm propostas superiores de outros clubes; e de alguns que só saíram quando foi do interesse de ambas as partes! Essas três situações foram propostas irrecusáveis, ao clube ou aos jogadores. É algo natural no futebol!
Para si, não há regressos proibidos?
Não. Salvo se houve alguma situação mais grave que eu desconheça.
Joe Berardo apresentou-lhe desculpas pelo que disse de si?
Publicamente. Pessoalmente, não. Mas, dentro do meu feitio, não guardo nenhum rancor. Não gostei... Não da crítica de estar velho - era uma opinião, como muitas outras. Mas não gostei da maneira como o fez.
Admite poder vir a trabalhar com ele?
Não é uma coisa que se ponha agora, mas, para todos os efeitos, sou empregado do Benfica.
A esta distância, abandonou a selecção no momento certo?
Sim, claramente. Não estou nada arrependido. Há um tempo certo para parar, muitas vezes o mais difícil é tomar a decisão. Creio que fiz bem.
Que balanço faz da geração de ouro do futebol português? Na selecção, não fica um sentimento de frustração por não terem ganho nenhum título sénior?
Não ter ganho um título, sim. É a história do copo meio vazio ou meio cheio. Meio vazio: não ganhámos nada. Meio cheio: abrimos um ciclo novo no futebol português, que hoje passou a ser o contrário do passado. Ou seja: se Portugal hoje não é apurado para uma grande competição é de estranhar.
Os castigos aplicados pela Liga há uma semana são o princípio de uma regeneração do futebol português?
Foi a primeira vez que a justiça desportiva actuou desta forma, o que não deixa de ser um sinal. A única coisa que quero dizer é que, da minha experiência como jogador, sempre gostei de ganhar os jogos em campo, nunca fora!
As decisões dos tribunais comuns, no «Apito Dourado», podem dar seguimento às sanções da Liga?
Tenho de acreditar na Justiça. É fundamental que se clarifiquem, de vez, alguns comportamentos do passado, mas é evidente que fica sempre a dúvida até onde a Justiça se atreverá a ir...
Há clubes a mais na Superliga?
(Silêncio) Visto o quadro económico do futebol português, talvez.
Em Portugal, as jornadas prolongam-se por quatro dias, com cinco jogos na televisão. Não são demasiadas transmissões?
Sim, mas esse é também um dos pontos de sobrevivência dos clubes.
A televisão é o balão de oxigénio dos clubes portugueses?
A televisão, hoje, é um grande balão de oxigénio. Só por essa razão é que uma jornada do campeonato começa à sexta e termina à segunda-feira.
Não deveria haver publicitação dos salários dos futebolistas?
Sim, sou favorável a essa evolução. Em Itália são públicos.
Defende igual sistema para Portugal?
Porque não? Se fosse para todas as profissões, o futebolista não fugiria à regra. Mas, como não é para todas, porque há-de ser o jogador o único alvo da curiosidade das pessoas? Falando como uma pessoa que deixou de ser futebolista há uma semana, não é o dinheiro que os jogadores ganham que dá prejuízo ao futebol. De certeza absoluta que não é.
Não há futebolistas em Portugal a ganhar mais do que as capacidades dos clubes e do mercado?
O mercado é que dita o ordenado do jogador... O mercado e o bom senso dos dirigentes desportivos.
Mas também dita os salários em atraso, os clubes tecnicamente falidos...
Isso são problemas de gestão. Se o clube oferecer uma verba que sabe que não pode pagar, então falamos de má-fé ou pura incapacidade de gestão, é evidente. Mas estamos a anos-luz de Espanha, Itália e Inglaterra, onde há jogadores a ganhar acima de dez milhões de euros por ano.
Clubes com salários em atraso deveriam poder competir?
Não. É o erro mais grave dos clubes... Em Itália, não é possível... O problema é que temos pessoas que acreditam que podem viver acima das possibilidades. A realidade encarrega-se de os fazer ver que tal não é verdade. Infelizmente, há profissionais de futebol que são sempre apanhados no meio.
Admite tomar alguma iniciativa no sentido de reatar as relações entre o Benfica e o FC Porto?
Tenho de pensar no Benfica e naquilo que é melhor para o Benfica.
É bom para o Benfica ter uma guerra permanente com o Porto?
Fizeram essa pergunta ao Porto? O Benfica não abre guerras com ninguém - tenta proteger-se e defender-se a si mesmo.
Além de ter sido colega, é amigo do Vítor Baía?
Claro que sou!
O Baía tem um cargo directivo no FC Porto. Quando as duas equipas se defrontarem, não estarão lado a lado na tribuna oficial, porque os clubes estão de relações cortadas.
A situação já se colocava quando éramos colegas de profissão. Uma coisa é a relação entre nós os dois, outra é a relação entre os dois clubes. Não é meu objectivo criar mais guerras no futebol. O meu objectivo é sobretudo defender o Benfica, fazer dele o melhor possível - e não fomentar más relações. Mas tenho de respeitar o que o clube tem em cima da mesa.
Há aspectos na organização do FC Porto que lhe merecem reflexão?
Não vou falar do Porto, não é isso que é importante. O que importa é o que há ou não dentro do Benfica.
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